24 julho 2009

luto

Seis horas da manhã. Uma notícia chega pelo meu celular. Uma mensagem de texto traz um desconcerto para o meu sono. Não pude mais voltar a dormir. Na verdade, eu queria imaginar que tudo era um pesadelo. E, depois... Eu acordaria e não lembraria mais do susto. Não, não foi assim... os meus olhos já não se fechavam mais. A realidade era aquela mesmo. Algo interrompeu a vida dele bruscamente. Várias recordações tomam a minha memória. Sentimentos impossíveis de serem esquecidos. Começo a fazer várias ligações para os nossos amigos em comum.
Choro.
Lágrima.
Descrença.
Uma vida tirada num sopro.
Por quê, assim?
Não sei o que sentir. Não sei o que dizer. Eu não entendo.

18 julho 2009

mesmo ventre



Para Denise e Leandro


Esquina da Avenida São João com a Avenida Ipiranga. São Paulo, 2 de maio de 2009. Meia-noite.

Não lembro a posição da lua no céu. Mas, era uma noite gelada com ventos de outono, o que pedia uma garrafa de vinho e muita música para esquentar. Dito e feito.

Na esquina mais conhecida pela canção "Sampa" de Caetano Veloso ("Alguma coisa acontece no meu coração/ Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João"), eu esperava ansiosamente os meus... dois irmãos. Marcamos ali porque o nosso destino era o palco São João da Virada Cultural, a alguns metros daquela esquina histórica - e uma ótima referência para não perdermos tempo de nos perdermos.

O vinho já tinho sido providenciado. E o meu desejo de ficar perto deles também.

Enquanto eu discava no celular o número do meu irmão, pois, já passavam do horário combinado, o cantor Marcelo Camelo se apresentava no palco ao fundo, os dois se aproximaram, riram e falaram: vamos, mana...

Como uma surpresa esperada, eu não sabia se a emoção era do susto, porque eu estava distraída, ou de felicidade, e falei: caramba, vocês demoraram!!!! (...)

É... coisas de irmãos. Com os irmãos, é difícil dar o braço a torcer. E eu não queria dizer que aguardava-os ansiosamente, porque meu desejo de vê-los já tinha sido garantido. Em outro momento, encontraria um jeito de mostrar a minha alegria por estarmos juntos. Eu sabia disso.

Afinal, a madrugada era nossa. Nada poderia estragar. Três irmãos, três maneiras diferentes de ser, três destinos e uma ligação única e exclusiva: nossa irmandade. Ali, no coração de São Paulo... num céu sem estrelas, que cobria as ruas apinhadas de gente, música e a nossa união.

E entramos na Avenida São João ao som de "Além do que se vê", cantada por Marcelo Camelo:

"Moça, olha só o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê

Sei que a tua solidão me dói
e que é difícil ser feliz
mais do que somos todos nós
você supõe o céu.
Sei que o vento que entortou a flor
passou também por nosso lar
e foi você quem desviou
com golpes de pincel"

Coincidência ou não, anos atrás, dediquei essa música ao meu irmão. Porque lembro sempre dele ao ouvi-la. Porque, nos meus momentos de aflição, sei que ele cantaria esta letra pra mim. Enfim, porque é a trilha dele... É a cara dele!

E assim, Marcelo Camelo fechou o show, o meu irmão se emocionou e eu fotografei para sempre aquele sentimento único que nos envolvia ao cantarmos bem alto, junto ao coro do público que prestigiava tal momento sublime do ex-Los Hermanos.

Sim, nesta hora, o vinho já tocara o meu estado são. A sensibilidade gritava e eu queria mais.

Os próximos a se apresentarem, num dos palcos principais da Virada Cultural, era Coletivo Instituto com BNegão e Thalma de Freitas, que cantariam as músicas do álbum "Tim Maia racional". O rapper com seu discurso afiado e a musa negra, de uma voz sensacional, dariam o tom de mestres para a minha noite. E assim foi.

Eu e minha irmã arriscávamos passos na mesma sintonia. Ela com movimentos pincelados de delicadeza e eu, emocionada, acompanhava o quadro imaginário pintado ao som de “Bom senso":

"Já senti saudade
Já fiz muita coisa errada
Já pedi ajuda
Já dormi na rua"

Este refrão soava, todos vibravam. E ali, eu entendia a nossa ligação. A garotinha que um dia foi café-com-leite nas brincadeiras dos irmãos deslocava-se sensualmente e nos empolgava a soltar a garganta... e o nosso encontro consolidava-se em linhas desgovernadas, cores abstratas e num amor incondicional. (...)
...
E naquela noite, nada que fosse dito um para o outro seria necessário. Às vezes, falar estraga! Sabe, é muito bom ter irmãos.

13 julho 2009

quem é você? [3]

Leitor desconhecido.

[Imagem também da Oficina. ]

[2]

Auto-retrato.

[Continuação do exercício para Oficina de Crônicas Visuais. Uma brincadeira com a minha imagem côncava. Um olhar distorcido. Agora, sim, sou eu. Hum! Será que é auto-biográfico?]

sou eu? [1]

Ficção.


[Exercício de fotografia para a Oficina de Crônicas Visuais, realizada no Sesc, entre os dias 10 e 12 de julho/ 09; ministrada pelo professor Rodrigo Galvão. Neste curso, fomos orientados, a partir do conceito de crônica literária, buscar imagens do cotidiano. (Mas, acho que as minhas imagens não ficaram tão prosaicas...)

Sobre o título dado para este post, é uma brincadeira com o "eu" do meu blog. Dizem que os meus textos são muito autobiográficos. Mas, quase tudo aqui não vivi. Então, a pergunta: sou eu? quem disse? Escrever em primeira pessoa traz esse problema, traz uma identidade ilusória para quem escreve. Afinal, pouca coisa por aqui é minha, só meia dúzia de olhares, que transformo em palavras. Depois, nada mais é meu.]

08 julho 2009

apenas o fim

Você tinha mania de pensar em tudo.
Eu só queria imaginar.
Você elaborava planos para o futuro.
Eu fazia escolhas num trevo de quatro folhas.
Você percebeu a minha estranha vocação de inverter os adjetivos nas frases. Dia bonito era bonito dia, para mim. E você achava lírico.
Eu pedia para você conjugar os verbos no plural: eu preciso comprar algo para comer tornava-se nós precisamos comprar algo para comer, meu bem.
Eu sempre gostei mais do nós, você achava o eu mais autêntico.
Você era ruim em Gramática Aplicada.
Eu não conseguia construir o fim dos meus contos, porque um dos personagens sempre morria e isso me perturbava...
Você sabia alinhavar as narrativas. Assim, me aconselhava com idéias ternas e reescrever tais finais não ficava tão dolorido.
Eu tirava sarro da sua mochila vazia com caderno e caneta, somente.
Você queria roubar o meu anel da sorte.
Eu gostava do seu tique no olho direito.
Você ria da minha "dislexia".
Eu te ensinei comer a salada antes do prato principal.
Você me ensinou virar doses de conhaque puro.
Sua mãe resolveu mudar de cidade.
Eu me apaixonei pelo professor de Literatura Russa II.
Você foi embora.
Eu ganhei uma bolsa para estudar fora do país.
Você casou e teve filhos gêmeos.
Eu virei escritora de livros infantis e as minhas estórias não terminam mais com mortos. Pois, nossa relação me fez entender que há um recomeço em tudo, até no fim... das histórias felizes.
Aprendi com você a tecer fins.

[Uma leitura minha do filme "Apenas o fim", do diretor Matheus Souza, que retrata um pouco da minha geração, tem voz jovem, tem as minhas (e as suas, talvez...) perguntas, não tem respostas... Vi algo despretensioso, sutil e interessante. Roteiro simples e personagens surpreendentes. Eu recomendo.]



25 junho 2009

santa palavra (para você, leitor!)

Escrever é?

Sempre tive muita dificuldade para escrever. Muita mesmo. Nas provas de redação da escola, ficava como uma pedra na frente do papel. E junto alimentava uma sensação de impotência. Assim, pensava: eu não sei escrever. Eu não sei escrever, repetia. Dura crença. E, com este pensamento permaneci por alguns anos, depois.

Ao mesmo tempo, nunca desisti de perder o medo de trabalhar a linguagem verbal para expressar as minhas idéias. Às vezes, sentia necessidade, daí, os meus diários anuais. Mas, naqueles jorros sentimentais, morava um jeito de explorar uma busca pela minha identidade e o de entender o mundo, talvez. Nada mais, nada menos. Nunca tive vontade de torná-los uma pré-idéia para um livro, por exemplo. Não, não. O personagem era a menina, daqueles idos anos 90.

Então, os anos passaram e algo permaneceu: eterna devota da escrita literária. E pronto! Aqui é o ponto de chegada neste blog. Não vou me alongar nesse passado de amante das palavras. Mas, depois de quatro meses "postando" alguns devaneios em "As Rosas", quis saber aonde quero chegar, afinal, já estou no ar há algum tempo.
Caro leitor, você sabe? Por favor, não responda. Posso não aguentar a bronca. Mas, sussura aqui: você sabe? Calma, eu também sei.

Pois, como falei no meu primeiro post ("Primeira vez"), a escrita se assemelha muito com as minhas lembranças do tempo de balé. É a coreografia do pensamento, dentro de um alfabeto desvairado, quando podemos criar milhões de sentidos com as palavras do nosso vocabulário... escrever é escolher uma palavra aqui... criar um parágrafo mais programado lá... colar aquele personagem com um ambiente acolá... e vem uma cidade inteira de percepções descoladas do comum... (sente a dança, leitor)... quebra a linearidade da narrativa... delimita a vida de uma família num capítulo... mata o cachorro do protagonista... fala de amor, amizade, ódio, intrigas... e cria e desconstrói... e perde a lógica da razão... e chora, e sente, e ri... e peita o mundo em papéis, linhas ou letras virtuais até o ponto de uma crônica, um conto, um romance...

...e chega numa dança prazerosa e estonteante: o objetivo do meu blog, também! Não farei deste espaço uma seita "palavrística", sem sacramentos verborrágicos, quero ousar pela descoberta da escrita nossa de cada dia.

Então, leitor, aumentou a sua certeza sobre "As Rosas"? Ah! Desculpe-me, estava testando a sua vontade de me levar a sério. Usei este post para não deixar um triste silêncio entre nós. Fiquei um pouco ausente, não é mesmo? Mas, continua por aqui, vai. O meu blog depende da sua paciência e disposição para uma literatura ainda sem forma, mas, cheia de tensão e emoção. Porque, no final, a vontade é manter esse contato: você e eu.

O bloco está na rua... Só estou tentando acertar a melodia do samba. Vambora?!

16 junho 2009

meio mastro


Tem um dia que o amor não levanta da cama. Olha-se para o lado, ele não está lá. Olha-se para dentro e somente o vazio existe. Vazio? Vazio é igual buraco? Nesse caso, não!

Esse vazio é o "não-sei". Esse vazio é a mesa para o café-da-manhã que antes era para dois e, agora, está deserta porque um dos amantes não existe mais.

Porque não há mais o que se comemorar ao ver o sol nascer. Porque só a tristeza acompanha as manhãs de quem precisa se enrolar no imenso lençol de casal, que ainda guarda o cheiro, o espaço e a inexistência dele.

Hoje meu amor morreu.

Eu não fiz decreto. Não assinei uma lei. Aconteceu enquanto eu menos esperava. Meu amor não levantou da cama. Ele se foi... junto a um sonho acordado, que se esquivou de mim em alguma esquina de uma madrugada bêbada e boêmia...

16 maio 2009

grão de mar


Meus leitores amigos, o próximo texto já está sendo providenciado.

O tempo anda apertado. E a escrita tem ficado um pouco de lado. As obrigações têm me ocupado diariamente.

Mas, como inspiração deixo esta imagem prosaica, ou nem tanto, de um outono praiano!


[imagem "grão de mar", por Denise Rodrigues]

01 maio 2009

[continuação] a outra

"É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que (...) [é] viver".*

Eu já não sabia quanto tempo havia durado este lampejo próximo de uma histeria em não me reconhecer. Mas, sabia que tinha extrapolado a duração normal para uma simples prova de roupa.

Talvez, por isso, a moça da loja tenha perguntado com um tom de preocupação se estava tudo bem. Ainda com o corpo trêmulo, não respondi imediatamente. Mas, disse que sim. E, para voltar ao meu estado são, pedi um copo d' água e mais alguns segundos até terminar de experimentar o vestido. Solícita, a moça gaúcha de sotaque engraçado pediu um minuto porque já traria.

E fui me acomodando no cetim lilás. O tecido escorregava na minha pele como se eu tivesse trocado uma camada do corpo; em frente ao espelho, uma lágrima e eu, vestida como se estivesse pronta para debutar. Então, sem saber se gostava ou não, pensava: quem me levará ao baile, se não existe um par? Quem compartilhará comigo a minha mudança, meu novo emprego, meu novo lar, se meus amigos e familiares estão tão distantes? Quem se importará com a minha mudez diante da outra em mim? Mais alguns segundos calados em minha volta...

A atendente me chamou e entregou um copo através da porta do provador. Sem ver o meu rosto, perguntou se eu precisava de ajuda. Perguntei se poderia fazer o pagamento do vestido com cartão de crédito. Ela disse sim. E eu disse que não ia levar, porém, tinha planos de voltar depois. Falei também que eu não era de Porto Alegre, estava só conhecendo a cidade e acrescentei: comprar roupas novas asseguram as nossas mudanças, não é mesmo? Voltarei para buscar o meu vestido de cetim e cor lilás, guria... quem sabe?! - finalizei, aproximando-me ao jeito de se falar por lá. Assim, tomei a água vagarosamente. Troquei de roupa. Fui retomando um estado natural. Olhei para as minhas malas, para o vestido, engoli o ar do suspiro e saí do provador em direção à porta principal da loja.

Com a mala sendo puxada numa mão, entreguei o vestido à vendedora e lembrei que precisava comer alguma coisa porque a fome persistia. Saí da boutique e peguei um táxi logo em frente. Entrei no carro e informei ao motorista que me deixasse em algum restaurante perto da rodoviária local. E sem nenhuma pretensão de entendimento dele, balbuciei também: queria pegar o primeiro ônibus para São Paulo. Ele respondeu gentilmente: fique tranquila, guria, conseguirás, sim. E, enquanto meus olhos acompanhavam aquelas ruas distantes das paulistanas, conjecturei: (...) já não tenho mais idade para mudanças bruscas... uma troca de roupas bastava...
*A paixão segundo G. H., Clarice Lispector

21 abril 2009

a outra

Vestia a mesma roupa desde o começo do dia. Eu tinha descido na rodoviária às 7h00, que ficava no centro de Porto Alegre. O pingado com pão na chapa já não surtiam efeito. Precisava comer, o quanto antes. Por isso, caminhava em passos rápidos. Numa mão puxava a mala de carrinho. A mão direita ia acima dos olhos para driblar o sol do meio-dia. Com as lentes de contato embaçadas, eu tentava reconhecer uma placa de self-service.

Meu celular tocou. Era a minha irmã, queria saber notícias da entrevista para o trabalho novo. Na verdade, ela já pressentia a saudade futura. Sabia do meu desejo de sair de São Paulo. Sua voz cabisbaixa intuía a minha certeza da mudança. Não deixei o desânimo dela nos contagiar.

Enquanto caminhava naquela calçada desconhecida, tentando me equilibrar no salto do sapato, que esmagava os meus dedos, pontuava a importância daquele momento para mim. Conversamos mais alguns minutos e pedi para nos falarmos mais tarde. Sol a pino, pensamentos desgovernados e uma fome frenética não davam clima para lamentos...

Passei ao longo de mais duas quadras, quando me deparei com uma pequena vitrine. Era uma loja simples, boutique de acessórios e roupas femininas. E uma peça me chamou atenção. Um vestido de cetim e cor lilás. Esqueci o meu propósito até ali, e entrei.

Uma vendedora simpática veio me atender. Apontei o que queria e ela trouxe imediatamente. Nem olhei o preço. Fui direto para o provador. Tirei o tubinho preto, arranquei os sapatos e dez segundos depois, me vi estática em frente ao espelho.

Um baque! Minha pinta da barriga não estava mais perto do umbigo mas, dois dedos abaixo. Um olhar arredio se fez presente em contraste ao jeito ingênuo de antes. Eu não me reconhecia. Cadê a minha mancha de nascença? – procurava no lugar que não estava. Perdi-me de vista, quando isso se deu? – indagava.

Milhares de pensamentos percorriam aquele momento. Uma onda diferente de susto e surpresa circulavam todo o meu corpo quase nu. Eu estava embriagada por uma dose de ruptura. Eu não era mais o mesmo eu de outrora.

Longe de casa, distante dos meus filhos, sem os conselhos da minha irmã... eu só reconhecia o vestido de cetim lilás. Numa nova cidade, distante da fumaça e do barulho paulistanos, estava despida de um passado sem efeito, causas ou consequências na minha vida depois dali...

(Continua no próximo post... da próxima semana!)

08 abril 2009

impulso

pula
cai no novo
sente o novo cheiro
veja a nova cor

pula

pula

pula

um novo pulo
de novo
uma outra nova cor
um outro novo cheiro

pula

pula

pula

cai

acerta
erra

pula

pula

pula

quantas vezes o corpo aguentar
e a alma permitir

pula!


P. S.: Dois meses de blog!

29 março 2009

desculpas e dúvidas - ou questões?

Não estou conseguindo pensar no post desta semana. Estou presa num refluxo. O vai e volta da minha dor na boca do estômago. A gastrite anda tirando a ordem do meu pensamento. Não vou deixar essa semana em branco. Então, me vejo obrigada a falar sobre não conseguir escrever.

Queria contar uma história de um menino que ignorei pois, não vi a fome dele. Pediu um prato de comida e enxerguei nele mais um pedinte. Foi tudo muito rápido. Ele chegou e disse: "moça, paga alguma coisa pra mim comer?" Numa auto-defesa desnecessária, rapidamente, falei que eu não tinha nada. "Mas, moça, não quero dinheiro, só um lanche" - finalizou. Na hora, não consegui escutar o pedido. E, ele foi embora.

Senti nojo de mim, minutos depois, por não perceber a necessidade do garoto. Ainda pensei em correr atrás dele, mas, não tive coragem. Não me pergunte por quê. Ele se perdeu entre os carros com a barriga vazia. E fiquei estática na calçada, ironicamente, em frente uma padaria, sem entender o meu impulso primeiro para falar não.

Talvez, por isso, eu não consiga nem começar escrever sobre esse episódio. Afinal, quero superá-lo pela escrita? Seria muita hipocrisia. Gostaria de ter efetuado uma ação. Só isso.

Queria, também, escrever sobre as pessoas que vão e vêm. Basta, estarmos na lida da vida e todo dia nos perdemos de alguém. Poucas ficam realmente. E aqueles que vão embora, por que foram? De quem é a culpa? Existe culpa?

Pensei num texto com o título "Encontros e desencontros", o mesmo do filme que tanto gosto e sempre choro na cena final: a despedida dos personagens principais, depois de se conhecerem durante uma viagem, guardada num abraço fraterno e verdadeiro. Um dos encontros mais singelos do cinema. E o adeus mais lindo, embora, triste.

Porém, temi ser muito clichê com tal temática... Tantos poetas já falaram sobre isso... Daria voltas no óbvio. Resolvi não tentar.

Olha... acabo de ver um problema neste meu argumento acima. Afinal, um dos desafios do escritor não é exatamente conseguir falar daquilo que já foi dito, mas de uma outra forma?

Escrever é arranjar jeitos diferentes para contar sobre as situações que nos rodeiam. Então, por que o medo?

E, ainda sobre o pedinte ignorado por mim, levantar essa minha questão num texto não poderia acordar outros também? Não poderia trazer ações para depois, tanto minha, quanto de outros? O passado se apaga. E o futuro?

A Literatura está aí para isso, não é?

Ser escritor não é frequentar as estantes de uma livraria. Mas, tentar e conseguir dizer. Buscar respostas sem temer. Através das palavras, no jogo de um texto literário, sem lógica formal, o escritor pode explanar sobre o mundo e levar os leitores a algum lugar que existe para todos; embora, não tenha sido pensado e sentido no modelo dito pelo autor, antes da obra dele ser criada.

Opa! Falei das coisas que tive vontade de dizer e o porquê não consegui (ainda possibilitei uma auto-reflexão). Acabei me esquivando do vazio de não conseguir postar nada. Vou ficar em paz com a minha gastrite, agora.

Um grito, poético ou não, precisa sempre ser maior que a dor. Hoje, nada ecoa. Somente uma voz de desculpas. Vou melhorar, para depois continuar no meu deleite blogueiro na procura de alguma literatura... No próximo post, tentarei parir um suspiro cheio de ruídos, com menos perguntas e mais exclamações.

22 março 2009

menino na janela

Ontem, nos encontramos e foi engraçado. Lembrei dos passeios para o Guarujá. Éramos crianças. De vez em quando, nossas famílias iam juntas para um piquenique bem festivo. No ônibus, tinha gente que se atrevia a cantar, até; um belo coral de desafinados. A lembrança mais forte, porém, daquela bagunça, era você sentado no banco da janela ao lado da sua tia. Olhos atentos, observava tudo, as pessoas, ruas e cores por onde passávamos. Eu ia logo atrás num banco depois do seu, apertada entre o meu irmão e minha mãe. Sempre irritada, porque tinha que ficar num espaço minúsculo e tudo o que eu queria era chegar na praia, achava suas perguntas ridículas.

Primeiro, você queria saber por que o semáforo tinha três cores diferentes. Depois, questionava o tamanho dos prédios. E eu só queria chegar logo... Mas, as suas perguntas não paravam. Tia, por que as pessoas andam apressadas, dizia com uma voz ainda de pirralho. Por que isso, por que aquilo, continuava. E eu bufava. Virava para minha mãe e falava: esse menino quer saber de tudo, compra uma revista de perguntas e respostas, assim fica quieto. Eu implicava com você, e até hoje não sei por qual motivo pegava tanto no seu pé.

Ontem, eu estava no ponto de ônibus e nos encontramos, depois de tanto tempo. Eu esperava a linha 80 e te vi dentro da linha 19, que parou na minha frente para pegar alguns passageiros. Ia na janela, como naqueles tempos dos passeios da nossa velha infância. Nos reconhecemos e o sorriso entre nós foi espontâneo. Fiquei muito feliz. E percebi que seu olhar observador permaneceu. Seus olhos iluminados esbanjavam o charme de menino ainda, mesmo com barba e voz grave. Trocamos meia dúzia de palavras, enquanto colocou a cabeça para fora e perguntou como andava a minha vida. O ônibus disparou e a despedida foi na velocidade do arranque. Você ficou olhando para o ponto e eu, parada, só queria saber: o que me perguntara?

16 março 2009

limite seco

"Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer"
(Panis et circenses, Gilberto Gil e Caetano Veloso)

Tomei distância. Dei um passo para trás. Me virei para aquela imensa porta e tudo atrás de mim nada dizia. Não ouvia os talheres levados à boca vazia. Tropecei. Quase num tombo de quatro. Não caí. Tomei consciência daquela cena tantas vezes corriqueira. Limitada pelo obstáculo da porta, agora, e para sempre, aqueles personagens precisavam virar passado.

Era um fato velho. Morar na casa de modelo colonial, envolvida por tantas histórias, pesava como os quadros barrocos pendurados nos corredores. Ainda escutar o zumbido dos passos nos tacos de madeira da sala, onde meu pai se arrastou nos últimos meses de vida, embrulhava o meu ânimo e me fechava em agonia. A comida estava na mesa. Fim do dia. Princípio da noite e o horário da última refeição. Mas, eu não conseguiria mais.

Até então, morava com os meus avós e meu pai. Dona Mira tocava a casa sozinha. Depois da aposentadoria forçada do meu avô, por causa de um infarto prematuro, Mirinha cuidava muito bem de tudo. Não deixava nada faltar. Nós éramos somente quatro. Meus irmãos nunca mais voltaram desde a separação dos nossos pais. Nunca conheci os meus sobrinhos. Não tive vontade. Não tenho. Mesmo que, emocionado, eu tenha chorado quando soube o nome do caçula da minha irmã, era meu xará. Será que ele é zangado e teimoso também, às vezes, me pegava imaginando. Mas, rapidamente, deixava de pensar. Seria indiferente saber.

Quando a minha mãe resolveu sair de casa, coloquei na cabeça, agora, não tenho mais ninguém. Cuidarei do papai e a ligação com todos os outros do antro Pereira, sobrenome materno, não me pertencem. E o único ente querido distante dali, embora, sem registro em cartório, desprovido de identidade e assinatura, era o Pluto. Cachorro safado e brincalhão. Não o ganhei de nenhuma namorada e nem comprei num pet shop. Ele me encontrou. Da rua também, adorava perambular solitário, assim nos identificamos rápido. Foi o meu guardião por longos anos, quando eu chegava bêbado e não conseguia abrir o portão, ele fazia a ronda, enquanto eu estava desacordado e esticado na calçada. O meu anjo da guarda tinha focinho e manchas pretas pelo corpo.

Desta vez, Pluto não apareceu para o jantar. Nem rastros dele havia pela casa. Eu ainda estava com a roupa de dois dias atrás, a mesma das últimas noites no hospital até o momento do enterro de Seu Aristides, meu pai. Acho que Pluto está de luto. Presenciou tudo. Deu adeus, enquanto corria desesperadamente atrás da ambulância. Dentro do carro, eu olhava pelo vidro e enxergava no latido dele o meu grito preso no peito rasgando-me por inteiro. Ele sabia do fim de papai. Eu também. Meu velho não resistiria. De novo, não. Ele não suportava hospital. Não aguentaria ficar mais um dia sequer numa maca. O câncer já estava avançado. Então, o homem que me ensinou a gostar de romances policiais e a tocar bandolim, precisava de paz.

Meu cachorro deveria ter se enfiado num beco qualquer da cidade. Não sei. Não teria mais as bainhas do Seu Aristides para rasgar. Por isso, o sumiço. E ali, na mesa de jantar com os meus avós, depois dos dias mais longos da minha vida, num breu nebuloso, o silêncio sepulcral nos engolia. Eu não podia mais. Enquanto, meu avô era servido por minha avó, me vi mergulhado no cheiro da cebola da sopa. Pálido e ao perceber um possível desmaio, dei um pulo em direção à porta de vidro da varanda. Num impulso, saí. Atrás de mim, numa vida repleta de senões, nada mais me cabia.

08 março 2009

amor ou medo

Já era fim de tarde. Não fazia sol. Tudo nublado, mas o calor permanecia. Sozinha, quase pensando em ir para casa, recebi uma companhia. Sentou ao lado da minha cadeira, em cima do meu chinelo de dedo, ficou ali, em silêncio.

Praia de domingo tem esse clima, tem esse jeito. As crianças brincam na beira do mar, os adultos conversam e bebem uma cervejinha, casais de namorados espalhados nas cangas esparramadas na areia e ainda tem a molecada do futebol, que chega, faz as bicicletas de trave e pede pra quem está ao redor: "Ae, tia, dá uma licencinha pra nóis ae".

Ficamos alguns minutos sem falar nada. Entendi o silêncio. Às vezes, não dizer é a melhor das comunicações. Deixar a palavra brotar depois da vontade exata de dizer algo. Deixar o som do diálogo precisar acontecer.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Decidi não perguntar. Continuei percebendo as situações ao meu redor. Achava curioso as velinhas tagarelas que tomavam picolé. O moço tentando equilibrar a criança na bicicleta, numa tentativa de ensiná-la a andar sozinha. O pescador com uma rede que de tão pequena, os peixes não sentiam nem cócegas de serem capturados. Divertido reparar tudo isso.

E alguma harmonia pairava neste clima calmo praieiro.

Mas, ali, ao meu lado algo ia mal. Continuei sem tentar saber muito. Fui comprar uma garrafa de água, dei um mergulho. Não queria ser inconveniente. Ao mesmo tempo, comecei a ficar incomodada. Achei que precisava perguntar qualquer coisa e tentar ajudar. Ou entender a surpresa da visita.

Até que ele se pronunciou...

- Bruna, estou com medo.

E um diálogo surgiu:

- Aconteceu alguma coisa, perguntei.

- Não.

- Só estou estranho. Sem respostas. Com medo. Sem saber mais de nada. Angustiado. É como uma dor sem qualquer razão me tomasse por inteiro. Me sinto desprotegido. Uma criança com barba na cara. Eu nunca temi. Mas, agora, ando sem norte. Eu me vejo como esse mar triste de fevereiro. Tudo nublado ao meu redor. Tudo escuro dentro de mim.

Permaneci num silêncio desconcertante. Dessa vez, as minhas palavras não vinham porque não sabia como interpretar o estado dele. E comecei dizendo:

- Thiago, não sei o que te trouxe aqui. Esse seu desespero é descabido, embora, todo sofrimento aconteça por alguma causa. Eu não sei como ajudar. Eu não posso ajudar, na verdade. Até semana passada, éramos namorados. Ontem, você me pediu um tempo. Pensa em mim.

- Eu sei. Mas, eu disse isso porque estou com medo. Eu te amo. Não sei se sou alguém pra te amar tanto. Você sempre está disposta a fazer tudo pra ficarmos juntos. Só não sei o quanto estou pronto para isso. O meu amor por você é muito grande. Estou assustado. Medo de não conseguir ir até o fim.

- Thiago, eu sou mais uma pessoa normal. Carente, com defeitos e buscando me encontrar, igual todo mundo.

- Desculpa!
Ficamos olhando para frente, para o mar indeciso, que vinha e voltava com as suas ondas. Eu não tinha mais nada para dizer. Levantei e falei:

- Está tarde. Vamos embora. Só tem nós dois aqui. A praia está ficando deserta. Carrega os meus chinelos. Eu levo a cadeira. Me abraça?

- Obrigado, por continuar ao meu lado.

04 março 2009

não sei

Segundos

Meu coração e meus passos
andam em círculo atrás
do seu rastro
meus pés e meu peito
e no meu pulso direito
bate o seu atraso
será que você, meu bem
será que você, não vem?

Adriana Calcanhotto

27 fevereiro 2009

meio diálogo sem firulas

- Estava pensando em desistir de tudo...

- É? Por quê?

- Não sei. A gente só briga. Acho que não dá mais.

- Mas, você vem me falar isso agora. Depois que acabamos de mobiliar a nossa casa.

- Pois é... você sabe, sou temperamental. Volúvel. Quando você me conheceu, tinha o cabelo chanel e loiro. Agora, tenho cabelos pretos e uso black power. Você já sabia. Sou assim mesmo. Não tem jeito.

- Garota, eu deixei a minha casa, meu conforto, porque você se dizia apaixonada. Falava que eu era o homem da sua vida.

- Eu falei. Mas, não tenho mais certeza. Não sei mais o que quero. Estou pensando em ir visitar minha irmã na Argentina. Quero ficar uns tempos por lá. Bateu saudade.

- Hã?

- É... Isso mesmo. Ela gostou da idéia. Não está mais morando com o namorado. Terminaram também.

- Também? Como assim? Você já estava com tudo calculado. Também?! Você está louca?! Está decidida, então?! Porra!

- Pára. Não precisa gritar. Olha como você está estressado. Nós dois viramos uma grande mentira. Eu não aguento mais ter que ficar sempre tentando melhorar, amenizar nossa relação. Você parece um garoto mimado. Cheio de vontades chatas. Chega! Nada está bom para você. Tudo te irrita.

- Está sendo muito cruel.

- Cruel? Um ano embaixo do mesmo teto, e já parecemos dois velhos rancorosos. Não consigo mais sorrir. Não tenho mais vontade de nada. Eu preciso de paixão. E você com essa frieza só me deixa sem vida. Eu quero levar os meus projetos adiante. Tenho tantos planos e você só fica aí, como se eu pudesse trazer alguma solução pra sua falta de coragem em mudar de emprego ou mandar o seu chefe pra bem longe... Eu não aguento mais.

- Beleza. Amanhã, deixe a senha do cartão de crédito e as chaves em cima da mesa. Vá. Eu não preciso de ninguém apontando o dedo na minha cara para quem eu sou. Eu sou mimado? Ok. Amanhã, não quero mais te ver aqui. Pode deixar, me viro com as contas do apartamento. Tchau.

- Você não vai pedir pra eu ficar? (...)

25 fevereiro 2009

pra onde você olha?

Rumo ao sumo
Disfarça, tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.


Outros olham para baixo,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada.

Paulo Leminski

22 fevereiro 2009

preparativos

Era uma data importante para Elis. 34 anos de idade e a programação de uma festa com familiares e amigos. Havia convidado muita gente. Pai, mãe, tias, primos, ex-namorados e, principalmente, amigos de diferentes épocas de sua juventude. Afinal, havia passado tanto tempo longe e trazê-los para comemorar o trigésimo quarto aniversário seria uma forma de juntar todo mundo e saber das fofocas como quem casou, separou, teve filho, essas coisas do cotidiano. Rever aquelas pessoas seria interessante. Até porque, tinha uma notícia para dar que ninguém poderia imaginar.

Programou tudo com Vivian, entre convites, comes e bebes até a lista da trilha para tocar na festa. Elis e Vivian se conheceram de um modo bem engraçado. Foi na fila de espera para uma vaga no estacionamento que se reconheceram amigas. Os carros das duas estavam emparelhados enquanto esperavam o trânsito dentro da garagem do shopping fluir. Era época de Natal. O centro estava um caos. Aquele burburinho típico de final de ano. Numa buzinada repentina para o carro da frente acelerar pois, a fila andara, Elis pulou de susto. Vivian ficou sem graça e acenou com um pedido de desculpas. E ali, naquele instante, nascia uma empatia entre as duas. A amizade não se deu no mesmo momento mas, depois, muitas coincidências, entre estudarem na mesma faculdade, a vontade de conhecer Paris e o gosto de conversar numa mesa de bar, tinham unido Elis e Vivian para várias ocasiões da vida delas.

A surpresa da gravidez de Elis merecia aquele cuidado com a festa. Mas, como só Vivi sabia, pois, escolheram deixar para contar aos outros somente durante a comemoração do aniversário, as duas programaram tudo juntas. Escolheram detalhes como fotos antigas da família de Elis e várias outras com cada um dos amigos, além daquelas com registros de onde morava atualmente. Montaram um grande mural com fotos intercaladas (atuais e mais antigas), que faziam uma retrospectiva de todos aqueles anos, longos trinta anos antes de partir para Budapeste.

As duas pareciam adolescentes. Enrolavam os docinhos e riam de alguma lembrança longínqua. Enrolavam um brigadeiro e comiam outros dois. Passavam o acúcar nos beijinhos e bebiam um gole de vinho. Vivian aproveitou para abrir um ótimo vinho argentino. Afinal, depois de tanto tempo separadas, nada podia estragar aquele momento de matar a tristeza de estarem distantes agora. Música e vinho elas sempre apreciaram. E na preparação daquele dia especial não podiam faltar. A música cobria o ambiente. E sorriam de tanta felicidade.

No meio da bagunça da cozinha que cheirava à empanada de camarão, Elis começou a contar como conheceu Rafael, seu namorado espanhol. Falou de como era difícil ficar longe de todos. Tinha problemas sérios em ficar semanas sem falar português. Mas, a escolha de ir para tão longe era um desejo do tempo de menina e por estar bem acolhida na casa do futuro marido não tinha do que se queixar. Vivia bem, sim. Embora, sempre chorasse de saudades.

Enquanto Vivian fazia o último arremate no bolo, Elis começou a dançar. Mexia-se como nos tempos daquelas longas noites de farra da faculdade. Nesta hora, ouviam Bob Dylan. "Blowing in the wind" soava e Elis se emocionou. Fechou os olhos e com o copo de vinho na mão dava um passo pra lá e outro cá.

Vivian levou um susto. Aquela cena era sublime. Como nas épocas que só pensavam no amor livre e ficavam até o amanhecer bebendo cerveja barata e filosofando sem parar. Eram jovens estudantes e não esqueciam que tinham uma vida inteira pra acontecer, por isso, sempre discutiam fervorosamente as injustiças do mundo e os problemas das relações humanas, entre biritas e muita fumaça de cigarro.

De repente, Elis ainda com os olhos fechados falou: Vi, quero que você cuide do meu filhote, se acontecer alguma coisa comigo. E continuou dizendo: você é a pessoa que tenho confiança desde sempre... amiga, sinto tanta falta das nossas conversas, risos despretensiosos; quantas vezes, você segurou as pontas nas minhas crises e me fez olhar a beleza do que parecia ser só sofrimento e amargura. Quer ser madrinha da Ana Clara ou Murilo, perguntou. Elis continuou dando seus passos, quase deixando o vinho cair do copo. Abriu os olhos e lá estava Vivian dançando e de olhos fechados também.

Abraçaram-se. Riram com lágrimas nos olhos. Vivian, irônica, só fez um pedido. Falou bem séria: o padrinho poderia ser um irmão ou amigo do Rafa, dizem que os espanhóis são homens "calientes"... E não deixaram de rir mais uma vez com a música no ar junto ao cheiro de festa e alegria.